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  • Sergio Martins

Sobre a Sociedade da Informação e a Quarta Revolução Industrial



Sociedade da Informação: algumas definições


Sabe-se que a velocidade das transformações dos acontecimentos nas últimas três décadas, em todas as esferas – econômica, social, militar, política e governamental – tem despertado interesse de inúmeros teóricos, sociólogos, historiadores e filósofos na direção de uma percepção mais acurada de interpretação dos fatos. Sabe-se também que interpretar acontecimentos tão complexos enquanto se é contemporâneo dos mesmos frequentemente ocasiona uma miopia analítica, uma vez que torna-se difícil entender os eventos e prever seus rumos no compasso de suas ocorrências. Entretanto, e ainda assim, tem sido possível conjecturar perspectivas e dimensões de vetores que indiquem classes ou categorias que apontem para determinadas dimensões. No presente caso, ao falar-se da sociedade da informação, termo por si só controverso, esforços têm sido feitos no sentido de traçar um perfil que configure e abarque suas características e aponte suas tendências.


Por conta da multiplicidade de interpretações sobre os fenômenos e transformações sociais do momento, podemos ouvir referências a termos como “Era da Informação”, “Sociedade da Informação”, “Era do Conhecimento”, “Sociedade do Conhecimento”, “Sociedade Pós-Capitalista”, dentre outros. Como dito, conquanto seja difícil alguém caracterizar ou nomear uma época no momento que se nela se vive, algumas colocações têm se mostrado apropriadas para tal, pelo fato de revelar aspectos pertinentes às ocorrências.


Algumas interpretações podem fornecer uma ideia das mudanças sociais em curso, sendo talvez as mais influentes. Marc Halévy (2010) as define como a “Era do Conhecimento”, visto que o conhecimento é compartilhado na Nooesfera* ficando, assim, à disposição para trocas entre seres humanos. Pierra Lévy sustenta que “As Tecnologias da Inteligência” (1996) levou à “Cibercultura” (1999). Peter Drucker define a atual sociedade/tempo como “Sociedade pós-capitalista” (1995), Manuel Castells define como “Sociedade em Rede” (2000) e Adam Schaff como “Sociedade Informática” (1997), apenas para citar alguns. (Referências no final)

* Noosfera - Numa breve definição, é um espaço abstrato, simbólico-cultural, onde se armazena e se dá a transferência do conhecimento humano

De qualquer maneira, a grande maioria dos teóricos da atualidade concorda que a antiga Era Industrial chegou a seu fim já há muitos anos, ao menos segundo as configurações que a caracterizavam. De acordo com Rodriguez y Rodriguez, a Era Industrial possuía três pilares básicos, a saber:


  • Meios de transporte: para escoamento de insumos do processo produtivo;

  • Energia: para operação de máquinas na produção de bens;

  • Indústria: base de todo o processo produtivo.


É certo que a era industrial tinha como vetor a burocracia e a produtividade em larga escala. Também aspectos como as relações hierárquicas configuravam o cenário de governos e empresas. Ainda segundo Rodriguez y Rodriguez, alguns fatores ainda podem ser considerados:


  • Burocracia

  • Produtos e serviços padronizados

  • Salários padronizados

  • Estrutura organizacional hierárquica

  • Autoridade do chefe

  • Centralização das decisões de poder

  • Informação como fonte de poder


Sobre este último tópico, a “informação como fonte de poder”, deve-se lembrar que a manutenção e o segredo da informação era um dos aspectos altamente priorizados na era industrial. A manutenção, segurança e a disponibilidade de informação para a tomada de decisão revelou-se como um fator estratégico para muitas organizações, empresas e governos desta época. Embora ainda tais aspectos sejam amplamente considerados, grandes mudanças ocasionaram uma adaptação aos novos tempos.


Com as aceleradas transformações das últimas décadas, os fatores acima descritos passaram a engessar o desenvolvimento das organizações como um todo, impedindo o crescimento e o perfil competitivo de empresas e governos. Rodriguez y Rodriguez ainda ressalta que o deslocamento da era industrial para uma era baseada na informação e no conhecimento foi motivada pelos fatores Informação e Conhecimento:


  1. Informação: queda das fronteiras informacionais, onde o compartilhamento passou a ser o foco;

  2. Conhecimento: que passou a ser priorizado, tendo as seguintes configurações:

  • É tácito, não sendo propriedade de empresas ou governas, mas de indivíduos;

  • É orientado para a ação: o conhecimento é percebido pelos sentidos e passível de aplicação prática;

  • É sustentado por regras: se dão por impressões sensoriais e processadas pelo cérebro;

  • Está em constante mutação: o conhecimento, quando externado pela fala ou escrita torna-se explícito, sendo passível de acumulação;

  • É um valor intangível: o conhecimento não pode ser mensurado e cria novos conhecimentos.


Estas características da ascensão do conhecimento reflete-se num paradigma disruptivo com a era industrial, onde algumas justaposições podem ser comparadas a seguir:


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Para Peter Drucker, o conhecimento é o ativo que norteia não somente a sociedade – Sociedade do Conhecimento – como também a economia – Economia do Conhecimento – ao que ele chama de Sociedade Pós-Industrial. Para ele, se a Revolução Industrial do século XVIII moldou o capitalismo e a era moderna, a Revolução Gerencial forneceu, ao menos para a economia, as bases da economia do conhecimento, prática produtiva típica da sociedade do conhecimento. Em suas palavras,


No início dos anos 1950 a definição de ‘gerente’ já havia mudado para alguém que é responsável pelo desempenho de pessoas. Sabemos hoje que essa definição também é demasiado restrita. A definição correta de gerente é alguém que é responsável pela aplicação e pelo desenvolvimento do conhecimento.

Drucker sustenta que a economia e a sociedade do conhecimento é alicerçada no ser-humano com responsabilidades e consciências sociais e ambientais, o ser humano instruído. Para ele o conhecimento reside nos indivíduos; as coisas – bancos de dados, livros, documentos etc – contém apenas informações. A economia do conhecimento, prática da sociedade do conhecimento, constitui-se, assim, a própria caracterização da Sociedade Pós-Industrial. Desta forma, para Drucker:


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Ainda de acordo com sua perspectiva, ele sustenta que a sociedade Pós-Industrial necessita de pessoas instruídas, com consciência social e ecológica para produção de conhecimento. E essa produção se dá em núcleos ou coletividade, isto é, nas próprias organizações. Sob esta perspectiva, as organizações são as células e o alicerce da Sociedade Pós-Industrial, onde o ser instruído produz e recebe conhecimento. Entre os indivíduos instruídos, em sua atuação dentro das organizações, os “gerentes do conhecimento” constituem-se no elemento central e o elo mais importante, interligando atividades físicas e rotineiras com atividades altamente especializadas e mais intelectualizadas. Desta maneira, Drucker constata que tais gerentes constituem a base da organização, que por sua vez é a base da Sociedade Pós-Industrial.


Uma outra perspectiva é sustentada por Halévy que defende o atual momento como a Era do Conhecimento. Esta Era do Conhecimento se deu pela Revolução Noética*, isto é, o rompimento com o tradicional pensamento cartesiano, incorporando uma visão sistêmica dos fenômenos atuais, considerando a complexidade inerente aos mesmos.

*Revolução Noética – Ruptura com os princípios cartesianos tradicionais de interpretação dos fenômenos e ascensão de uma nova maneira holística de interpretá-los, com base em teorias como Teoria de Sistemas e Teoria da Complexidade, de modo a enriquecer a noosfera

Além da Teoria Sistêmica, a Teoria da Complexidade aqui é levada em consideração, onde os fenômenos não são mais simplesmente elucidados pela decomposição das partes; a complexidade é exponencial, e a interação gerada a cada nova composição das partes gera uma complexidade adicional, não prevista e aleatória. Em suas palavras,

O ciclo de ontem era a chamada ‘Era Moderna’, nascida de outra ruptura em meados do século XV, na transição entre o fim da era feudal e o Renascimento italiano. Assim, meio milênio de ‘modernidade’ está se encerrando. (...) A explosão das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) transformou de modo radical o nosso modo de funcionamento, tanto doméstico quanto profissional. Os chamados ‘mundos virtuais’ provocaram a desmaterialização de muitos aspectos da vida cotidiana, a começar pelo cartão de banco, que substituiu o dinheiro, então símbolo e coração da moribunda era moderna que findou. (HALÉVY, 2010)

Na sua maneira de interpretação dos fenômenos, Halévy sustenta a necessidade de uma visão holística dos fenômenos sociais, não somente considerando perspectivas econômicas, sociais, religiosas etc, mas sim todas elas juntas, inclusive fatores biológicos, psicológicos e espirituais. A partir de uma visão holística, integrada e gnóstica, a interpretação dos fenômenos torna-se mais frutífera, mesmo levando-se em conta sua complexidade. Desta forma, o novo homem estará pronto para entender a revolução noética e adentrar na Era do Conhecimento.


Talvez um dos maiores expoentes da Sociedade da Informação seja o sociólogo espanhol Manuel Castells. Em sua monumental obra “A Sociedade em Rede”, Castells elucida com detalhes o processo de transformação social-cultural pelo qual as sociedades vêm passando e que culmina com a integração das tecnologias da informação e da comunicação, culminando numa sociedade conectada em rede, conexão essa planetária. Suas ideias e teorias tem sido amplamente consideradas, influenciando vários teóricos ao redor do mundo. Embora a nomeie como “sociedade em rede”, Castells refere-se precisamente à rede de informação que conecta os indivíduos. A Sociedade da Informação, segundo Castells, inicia-se nos anos 1970, ao qual chama de “a divisória tecnológica dos anos 70”. Nesta época, o poder dos processadores e da microeletrônica, aliados aos acontecimentos geopolíticos globais como a crise do petróleo alavancou uma revolução tecnológica sem precedentes, sobretudo nos Estados Unidos. Para Castells, alguns fatores podem ser considerados:


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A convergência destes acontecimentos geopolíticos com as tecnologias emergentes e informação e comunicação, de acordo com Castells, fazem surgir um novo paradigma sócio-técnico. Em suas palavras,

Com efeito, a interface de programas de macro investigação e grandes mercados desenvolvidos pelo Estado, por um lado, e inovação descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade tecnológica e modelos de sucesso pessoal rápido, por outro, foi a causa pelo qual as novas Tecnologias da Informação chegaram a um florescer. Assim fazendo, reuniram ao seu redor redes de empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sócio-técnico, que é a base da sociedade em Rede. (CASTELLS, 2000)

Este novo paradigma, sustentado por Castells, possui 5 aspectos:


1. A Informação é sua a matéria-prima; pela primeira vez, as tecnologias foram implementadas para servir à informação, e não o contrário, como em épocas anteriores;

2. O amplo poder de penetração das novas tecnologias, que molda todos os aspectos da vida humana, a forma como os indivíduos se comunicam e, também, sua própria forma de existir;

3. A lógica de interconexão das novas tecnologias, que se refere à infraestrutura de rede para interligar e proporcionar esta convergência tecnológica;

4. A flexibilidade das interconexões tecnológicas, no qual as redes e infraestruturas podem adaptar-se e modificar-se frequentemente, atendendo a demandas, desafios ou necessidades emergentes;

5. A convergência crescente de tecnologias específicas num sistema altamente integrado, que equipara antigas tecnologias analógicas com as modernas tecnologias digitais.


O impacto deste paradigma é difícil de prever, de acordo com Castells, porém para ele, uma nova reestruturação social se dá em muitos âmbitos e possui muitos aspectos, onde podemos destacar alguns:


  • Espaço dos fluxos de informação;

  • Aldeia Global (mundo interconectado);

  • Mega-cidades globais;

  • Espaços físicos (arquitetura) e digitais (interconexão) globais;

  • Novos espaços industriais;

  • Nova forma de percepção do tempo: tempo flexível, tempo “atemporal”;

  • Guerras instantâneas e cirúrgicas;

  • Novo espaço paralelo e tecnológico de interação entre pessoas, empresas e estados.


Não há dúvidas de que Castells é um dos mais eminentes pensadores contemporâneos da Sociedade da informação. Recentemente, em 2016, ele reviu e aumentou sua já monumental obra, incorporando elementos mais atuais para discutir este tema tão complexo. Ele ainda encontra-se em plena atividade, ministrando cursos e palestras ao redor do mundo.


Uma outra visão dos tempos atuais é exposta por Pierre Lévy, renomado filósofo francês, pensador dos efeitos e impacto das tecnologias no mundo e na sociedade. Lévy tem sido tão ativo quanto Castells, lecionando em inúmeras universidades e palestrando nos mais diversos ambientes. Para Lévy, os seres humanos necessitam da escrita para a criação de uma rede de conhecimento que o permita progredir enquanto civilização e como espécie, e as tecnologias têm convergido para proporcionar tal integração.


Lévy desenvolveu uma ideia bastante interessante do modo de pensar do ser-humano, base para as tecnologias da informação, da inteligência artificial, tecnologias coletivas e tecnologias da inteligência. Essa ideia baseia-se na noção de hipertexto: o pensamento humano não se dá de forma linear, mas de forma associativa, com nós que interligam conceitos diversos e distintos. Ainda que este conceito tenha sido mencionado por pensadores anteriores, Lévy o sistematizou numa linguagem atual: ao contrário de uma máquina computacional convencional, a maneira de pensar do cérebro humano se dá de forma livre, baseada em aprendizado e em experiências prévias de mundo.


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O conceito de hipertexto, assim, é uma metáfora para o pensamento associativo, não-linear e fluido, navegando por conceitos, ideias e abstrações simbólicas de maneira relacional e não causal. Da mesma forma, para Lévy, a inteligência artificial, para ser bem sucedida, deve operar da mesma forma, conectando links de acordo com a semântica necessária ao tema processado.


Outro conceito apontado por Lévy é o conceito de Groupware, que à época em que o revelou (início dos anos 1990), constituía a base para as redes sociais e comunidades de prática. A ideia revelada pelo Lévy seria a gênese do que hoje conhecemos como a Wikipedia, ou seja, growpwares (grupo de trabalho colaborativo entre pessoas) operando a inteligência coletiva. Esse campo de operação constitui-se no Ciberespaço, isto é, local onde se desenvolve a Cibercultura ou Inteligência Coletiva ou ainda Ecologia Cognitiva. Lévy cita ainda os campos em que a Cibercultura pode ser acessada e operacionalizada:


Comunicação e Notícias

Integração Social

Som e Música

Imagem e Vídeo

Memória coletiva

Artes

Economia

Educação (podemos incluir educação à distância)


Lévy se mantém neutro em relação à técnica ou às técnicas, isto é, em relação à tecnologias da informação. Embora seja um entusiasta das novas tecnologias, ele sustenta que estas não determinam operativamente os caminhos da sociedade, mas condicionam. Nisso há uma diferença fundamental. As tecnologias dão as condições de práticas sociais diversas de uso da informação – para o bem ou para o mal – sem, no entanto, ser determinante para tal. Para ele, a tecnologia em si é neutra e o que é parcial é o uso que se faz dela.


A Quarta Revolução Industrial


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Além das visões dos especialistas acima expostos, que conceituam e caracterizam a Sociedade da Informação, recentemente (em 2016) surgiu um conceito novo e controverso nas discussões do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial), evento anual que se dá na cidade de Davos, na Suíça. Já há muito admitindo abertamente os tempos atuais como a Era da Informação, ou Sociedade da Informação, um de seus mais eminentes teóricos e influenciadores, Klaus Schwab, revelou recentemente um novo fenômeno paradigmático na atual sociedade: A Quarta Revolução Industrial. O impacto desta nova revolução industrial foi abordado num expressivo relatório, em meados de 2016, apontando as características, rumos, tendências, desafios, prós e seus contras, inclusive com referências a desdobramentos em outros relatórios temáticos. O fenômeno da Quarta Revolução Industrial é tão complexo que, em suas palavras:


Ainda precisamos compreender de forma mais abrangente a velocidade e a amplitude dessa nova revolução. Imagine as possibilidades ilimitadas de bilhões de pessoas conectadas por dispositivos móveis, dando origem a um poder de processamento, recursos de armazenamento e acesso ao conhecimento sem precedentes. Ou imagine a assombrosa profusão de novidades tecnológicas que abrangem numerosas áreas: inteligência artificial, robótica, Internet das Coisas, veículos autônomos, impressão em 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência dos materiais, armazenamento de energia e computação quântica, para citar apenas alguns. Muitas dessas inovações estão apenas no início, mas já estão chegando a um ponto de inflexão de seu desenvolvimento, pois já constroem e amplificam umas às outras, fundindo as tecnologias do mundo físico, digital e biológico. (SCHWAB, 2016)

De acordo com Schwab, a primeira Revolução Industrial teve início em meados do século XVIII, com o desenvolvimento da manufatura, das ferrovias e máquinas a vapor. A segunda ocorreu em fins do século XIX, com o advento da eletricidade, da linha de montagem e a produção em massa. A terceira ocorreu a partir da década de 1960, quando o computador, os chips e os semicondutores alçaram os mainframes na computação, juntamente com o desenvolvimento dos sistemas operacionais (década de 1970), os computadores pessoais (década de 1980) e a internet (década de 1990).


Embora muitos teóricos reconheçam que estejamos ainda numa terceira Revolução Industrial, no qual os recentes fenômenos são apenas seus desdobramentos e consequências, para Schwab, a partir da virada do século XXI, houve uma revolução digital tão significativa a ponta de justificar uma nova – e quarta – revolução industrial. Segundo ele,

É caracterizada por uma internet mais ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e pela inteligência artificial e aprendizagem automática, isto é, aprendizagem de máquina ou computação cognitiva. (SCHWAB, 2016)

A Quarta Revolução Industrial possui megatendências que funcionam como categorias de sua operação. Estas tendências/categorias são:


  • Categoria física: são produtos típicos da Quarta Revolução Industrial, como os veículos autônomos, as impressões 3D, a robótica avançada e novos materiais sintéticos. 

  • Categoria digital: é a revolução causada pela Internet das Coisas, isto é, pelos dados gerados pelos mais diversos dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets, microsensores, blockchains e bitcoins – estes últimos dispositivos massivos digitais que funcionam como agentes mediadores autônomos de confiança comercial (blockchains) e moeda virtual (bitcoin).

  • Categoria Biológica: é a revolução na nanobiologia e bniotecnologia, operando sobretudo nas áreas de genética, como a biologia sintética. Dentre em pouco será possível confeccionar tecidos ou até mesmo órgãos a serem transplantados em pacientes. Também a neurobiologia, as neurociências e ciência cognitiva será o vetor da Quarta Revolução Industrial.


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Além das categorias acima citadas, Schwab aponta várias mudanças a serem impactadas pela Quarta Revolução Industrial, a saber, todas controversas e com prós e contras:


  • Tecnologias implantáveis

  • Presença digital

  • A visão como nova interface

  • Tecnologias vestíveis 

  • Tecnologias ingeríveis

  • Computação ubíqua

  • Supercomputadores de bolso

  • Armazenamento universal Internet das coisas e para as coisas

  • Casa inteligente

  • Cidade inteligente

  • Big Data para decisões

  • Carros autônomos

  • Inteligência artificial e computação cognitiva

  • Robótica e serviços afins

  • Moedas virtuais (bitcoin) e programas mediadores (blockchain)

  • Economia compartilhada

  • Impressões em 3D

  • Seres projetados

  • Neurotecnologias


Em adição, podemos ainda citar:


  • Realidade aumentada

  • Imersão virtual


Todos os fatores acima apontam para uma nova Revolução Industrial que, para Schwab, caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento. Como se pode perceber, as tecnologias já se tornaram onipresentes e muitas vezes os indivíduos nem a percebem, de tão imersos que estão no seu uso e na sua dependência: já tornou-se algo natural, do qual as pessoas não podem mais ignorar ou prescindir.


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Podemos adicionar ainda que, caracterizando ainda mais aspectos da atual Sociedade da Informação, podemos citar tecnologias e práticas que têm tido cada vez mais destaque nos últimos anos:


  • Big Data: refere-se à infinidade de dados gerados pelos mais diversos dispositivos da atualidade. Tem sido citada por especialistas e visada por empresas a partir da proliferação de smartphones e microsensores, além das redes sociais, que criam uma quantidade colossal de dados a serem interpretados. Sua interpretação só é possível através de softwares específicos para esta tarefa, tal a magnitude e o tamanho dos dados gerados. 

  • Internet das Coisas: é o ciberambiente que interliga e conecta todos os dispositivos que acessam a internet, desde torradeiras, sistemas de iluminação e casas inteligentes até acessórios como roupas, relógios, câmeras, smartphones e tudo o mais que possa estar conectados à internet e gerando dados para alguém ou para algum lugar. A quantidade de dados gerada é que consiste no Big Data.

  • Realidade aumentada: é o ambiente de imersão que funde o ambiente físico com o ambiente digital, onde ocorrem simulações e atuações para as mais diversas finalidades. Os indivíduos imergem num ambiente de realidade aumentada de modo a expandir sua capacidade de operação a atuação na realidade, ainda que com atuação em ambiente digital/virtual.

  • Nova realidade espaço-temporal: as novas tecnologias têm ampliado o número de tarefas que podemos realizar no tempo, bem como potencializado a eficácia operacional de nossas atividades, ocasionando uma distorção na percepção do tempo, encurtando períodos para interação e integração que se refletem nos negócios e mesmo na vida social. Da mesma forma, nossa percepção do espaço tem sido encurtada, onde células e coletividades sociais não mais precisam estar fisicamente próximas para operarem. Isso se reflete nos estudos – educação à distância – e mesmo nas práticas trabalhistas – home office – que tem sido adotadas cada vez mais por instituições, tais como escolas, universidade e pelo mundo corporativo.


Informação como recurso essencial e estratégico


Importante ressaltar alguns aspectos controversos sobre o que se entende pela nomenclatura da nova sociedade. Existem especialistas - filósofos, sociólogos etc - que a caracterizam como Sociedade do Conhecimento, enquanto outros tantos a caracterizam como Sociedade da Informação. É sabido que a informação é o veículo para o conhecimento e que o conhecimento se dá pela aquisição de informação. Entretanto, existem vários tipos de conhecimento, buscado pelas mais diversas sociedades ao longo da história. Isso quer dizer que é correto afirmar que todas as sociedades no tempo sempre foram sociedades do conhecimento, fosse conhecimento religioso ou conhecimento prático. Todas as civilizações desenvolveram conhecimentos úteis para a finalidade de seus interesses. Por outro lado, a informação, embora presente em todas as civilizações – fosse oral ou escrita – era apenas o veículo para o conhecimento.


Entretanto, nos tempos atuais, isto é, na sociedade atual, nunca antes a informação em si teve tanto destaque e relevância. Mesmo os dados, que são registros passíveis de transformação em informação, adquiriram uma importância sem precedentes nos tempos atuais. No caso da informação, esta inclusive tornou-se objeto de investigação científica – Ciência da Informação – que estuda suas propriedades e impactos sociais e tecnológicos. Assim, percebe-se que faz mais sentido caracterizar a sociedade atual como Sociedade da Informação ao invés de Sociedade do Conhecimento. A informação, ela mesma, tornou-se um ativo tão importante e estratégico como outros fenômenos, bens ou artefatos criados pela civilização, como por exemplo o capital. O mesmo vale para a caracterização dos tempos atuais, isto é, Era da Informação ao invés de Era do Conhecimento.


Conquanto existam vários teóricos entusiastas da Era da Informação e da Sociedade da Informação, há também aqueles que são extremamente críticos em relação aos fenômenos que caracterizam a era e a sociedade atual. Para estes, como Marshall McLuhan, Armand Mattelart, Zygmunt Bauman e Paul Virilio, dentre outros, os tempos modernos têm corrompido a sociedade, destruindo aspectos das relações humanas, sociais, políticas e econômicas. As tecnologias, mesmo que possam ser neutras em si mesmas, são máquinas e ferramentas que inevitavelmente servem aos interesses de estados e do capital, oprimindo e controlando a vida dos indivíduos. Ainda que McLuhan tenha se referido ao conceito de Aldeia Global como aspectos de integração promovidos sobretudo pelos meios tradicionais de comunicação de massa – como a TV – por outro lado Castells, como entusiasta, concebe uma Aldeia Global como a sociedade interconectada em rede.


As mudanças e as revoluções sociais e tecnológicas têm sido cada vez mais velozes, profundas e complexas, oferecendo desafios que transcendem uma capacidade superficial de interpretação e entendimento. Mesmo especialistas relatam extrema dificuldade em interpretar os fenômenos atuais, tal a frequência de ocorrência, bem como sua rapidez. Quase todos são unânimes em reconhecer que suas ideias são passíveis de erros – seja pela subestimação ou pela supervalorização dos mesmos. Também interpretar os impactos na sociedade de tais fenômenos requer um jogo que implica uma longa observação de relação causais, tempo que os especialistas não dispõem, pois corre-se o risco de, quando perceberem tais relações de causa e efeito, o paradigma já tenha mudado.


Entretanto, é inegável que a coerência de suas ideias, teorias, observações e apontamentos é extremamente significativa para nos situarmos no momento atual, tanto no tempo quanto no espaço. Sem suas contribuições, indubitavelmente ficaríamos impotentes e perdidos ante à avassaladora mudança e complexidade dos fenômenos trazidos pelas cada vez mais incessantes e profundas revoluções que as tecnologias nos trazem. Suas ideias são guias que permite-nos avançar e lidar com as novas realidades que deparamos a todo momento.



Indicações bibliográficas


  • CASTELLS, Manuel. La Sociedad Red: la era de la información: economía, sociedad y cultura. 2. ed. Madrid: Alianza Editorial, 2000.

  • DRUCKER, Peter. A Sociedade Pós-Capitalista. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1995.

  • HALÉVY, Marc. A Era do Conhecimento: princípios e reflexões sobre a revolução noética no século XXI. São Paulo: Unesp, 2010.

  • LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1993.

  • __________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

  • RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Martius V. Gestão Empresarial: organizações que aprendem. Rio de Janeiro: QualityMark, 2002.

  • SCHAFF, Adam. A Sociedade Informática. São Paulo: UNESP/Brasiliense, 1997.

  • SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016.

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